A leitura sempre foi uma das formas mais poderosas de aproximar pessoas, ampliar horizontes e fortalecer identidades. Em tempos em que a informação corre veloz, mas o acesso ainda não alcança todos, falar de inclusão literária é falar de um compromisso urgente: garantir que cada pessoa, independentemente de onde viva ou de como viva, possa encontrar nos livros um caminho para se descobrir e se reconhecer.
E a inspiração para estas palavras tem nome, rosto e estrada: Clóvis Matos, o espalhador de livros. No dia 19 de novembro, o projeto completa 20 anos de uma jornada movida por generosidade, persistência e amor pela cultura. Duas décadas levando literatura para quem não tem acesso, chegando onde o Estado e as políticas públicas quase nunca chegam.
Com suas companheiras de batalha, a Furiosa e a Branquinha, apelidos carinhosos de seus carros, Clóvis já percorreu mais de 300 mil quilômetros, entregou mais de 250 mil livros e alcançou não apenas os cantos de Mato Grosso, esse estado de dimensões continentais, mas também Pernambuco, Tocantins, Minas Gerais, Goiás e outras regiões do país. Onde o livro não chegava, Clóvis chegava primeiro.
E há ainda outra face dessa história. Há 18 anos, o espalhador de livros também se tornou o Papai Noel Pantaneiro. Pela figura estética, pela simbologia do afeto e pela força do gesto, ele leva não apenas livros como presentes, mas também lembranças, sonhos e pequenas esperanças para crianças e adolescentes, inclusive aqueles que vivem no coração do Pantanal mato-grossense. Em comunidades ribeirinhas, aldeias, escolas isoladas ou regiões de difícil acesso, o Natal chega de barco, de carro, de voadeira, mas chega. E, quase sempre, chega pelas mãos de Clóvis.
A inclusão literária não é apenas entregar livros. É criar vínculos. É criar espaços de troca, de conversa, de escuta. É montar rodas de leitura embaixo de uma árvore, transformar o porta-malas do carro em biblioteca ambulante, atravessar ponte, lama, poeira e água para dizer a alguém: “você também pertence a esse mundo das histórias.”
Cada livro doado, cada página folheada, cada criança que descobre uma personagem com quem se identifica é um ato de resistência cultural. É reafirmar que a literatura não é privilégio. É direito. Um direito que fortalece autoestima, que abre novas realidades, que ajuda a reescrever narrativas individuais e coletivas.
Quando um território é invadido por livros, ele também é invadido por possibilidades. A leitura alimenta a curiosidade, fomenta o pensamento crítico, melhora a comunicação e amplia o olhar para o outro. Em um país tão diverso quanto o nosso, isso é essencial. Literatura é ferramenta de inclusão porque dá voz a quem muitas vezes não é ouvido e dá perspectiva a quem muitas vezes não é visto.
Falar de inclusão literária é falar de futuro. Um futuro que depende de ações simples, mas contínuas. De pessoas como Clóvis Matos, que acreditam que cultura também se move a quatro rodas, atravessa fronteiras, corta rios e chega onde precisa chegar. De iniciativas que tratam cada livro como um gesto de afeto e cada leitor como uma potência em construção.
No fim, incluir pela literatura é garantir que todos tenham a chance de se encontrar em uma história e, a partir dela, começar a escrever a própria. Porque quando um livro chega, nada permanece igual. E, para mim, essa é a melhor parte.